Personagens...
Pessoas e o folclore que fazem ou fizeram parte do modus vivendi de Aldeia Velha. Histórias e casos pitorescos, lendas e narrativas biográficas de seus personagens...

Tem gente que vira semente. Que fica dentro de cada um como memória boa. Honorair era desses.
Criança grande, que não perdeu o brilho no olhar, chamava as crianças para as cirandinhas, para brincar de passa anel, para o Piau. Com os amigos Seu Marquinhos e Zeca Tostes, ele estava sempre pronto para incentivar que os jovens, os pequenos e os adultos pudessem experimentar o prazer de se jogar junto, como antigamente. De dar as mãos, de ser inocente, de ser criança. De alcançar novos horizontes através da perna de pau. De compreender que brincar, jogar e se divertir é coisa para todas as idades fazerem juntas.
Nada mais justo que a praça leve seu nome, um guardião da Cultura Popular e da Cultura Caipira com orgulho. Para que as crianças de hoje tenham esse espaço sem carros, sem perigos, para correr, para brincar, para ser criança, para viver um pouco o que outrora foi essa Aldeia Velha…Experimentar um pouco de traquinagens como ele contava, do tempo em que as crianças se juntavam para roubar cacau na mata atrás do cemitério.... O medo do saci… a Mãe do Ouro que aparecia por ai…
As histórias, também são formas de aprender, de educar, e se divertir. Honorair foi um grande contador de histórias da Aldeia. Cheio de cores e sons, ele ia pintando essa Aldeia Viva, com suas memórias das épocas de roças grandes, de famílias descendo dos sítios para trazer a produção para trocar nos armazéns, que nas portas eram cheios de sacos de café, de banana, farinha, milho…. Muitos se lembram dele contando nas rodinhas: "A Aldeia de Ypuca era de 1788 ou 89?" Ele não cansava de repetir pra quem quisesse ouvir: "Aldeia Velha era uma aldeia de índios, pouca gente sabe..." Tinha paixão de viver e alegria de compartilhar a vida. No baile, era o que animava a festa. Chamava as moças pra rodopiar no salão ainda vazio. Aquele jeito de dançar que era próprio dele. Cantava, dançava, animava o baile.
Era um festeiro. Na procissão de Santanna, era quem soltava os rojões com Marcelinho. Lá na frente da Santa, eles vinham anunciando a chegada dos fiéis com suas velas que iluminavam as ruas ao som das ladainhas antigas.
Como bom anfitrião de Aldeia, contava pros que chegavam, com os olhos brilhando, a Época de Ouro de Aldeia Velha. Não apenas do que ele viveu quando criança, mas dos causos que os mais velhos contaram e ele com muito orgulho guardou. Fazia questão de multiplicar o que sabia, compartilhando seu saber dos tempos antigos. Das épocas dos ciganos, dos tropeiros descendo das serras com suas tropas de mulas, as muitas festas da roça, os bailes que duravam dias, as comidas de antigamente, o manuê, o feijão tropeiro, o saci, a pedra da sesmaria….
O futebol era uma das suas alegrias! Correndo pelo campo da Aldeia, com o uniforme encarnado de nosso time, animando os campeonatos. Jogava daquele jeito próprio! Quem viu, sabe… Animação sempre foi sua forma de fazer tudo que fazia.
Honorair era um grande artesão, não apenas de casinhas e bonecas de palha. Era mestre na arte de unir as pessoas através da Cultura, através da generosidade de compartilhar seus saberes. Não caçava apenas rãs com Marcelinho, era também um caçador de bons momentos, um caçador de histórias e de aventuras.
Que as sementes que Honorair nos deixou floresçam nessa praça, que nela sempre haja espaço para as histórias, para as memórias, para as brincadeiras, para a poesia e mais que tudo, como Honorair sempre dizia: "Brincar não é coisa só de criança. Antigamente, velho, criança, pai de família, moça, todo mundo brincava junto." Bora brincar e saudar a Cultura Popular!!!!!
Viva a Praça Honorair Schuler Valadão!!!!!
Mildinho - escritor de romance ambientado em Aldeia Velha

Aliandro Oliveira, popularmente conhecido como Miudinho, nasceu em 1979 em Silva Jardim - RJ, e reside em Aldeia Velha, Bairro da mesma cidade. É Psicólogo (Bacharel em Psicologia) pela FAMATH/ Niterói e Biólogo (Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas) pela UNIGRANRIO. Além da sua formação acadêmica possui uma forte ligação a movimentos culturais voltados à produção literária, escrita de poesias e prosas, tendo participado de Saraus, Bate-Papo, entrevistas, um Documentário e uma Antologia, destacando-se como Poeta e Escritor. Publicou seu primeiro livro em 2003 " Um Pouco das Coisas" ( Poesias)." Doralice: de volta à lamparina" é o seu primeiro romance.

Este livro fala da delicadeza do primeiro amor, sensação que mistura a magia das descobertas da tenra juventude, as incertezas de um mundo que se descortina, o surpreendente encontro com os apelos do corpo em transformação e da alma, que se agiganta, apresentando-se de maneira intensa e irreversível .
A história toma como pano de fundo a década de 40, pouco antes do fim da Segunda Guerra, momento em que o mundo vivia os horrores da violência extrema e as comunicações tomavam formas mais ágeis.
É nesse clima que se desenvolve a narrativa, na pacata e bucólica vila conhecida como Aldeia Velha, onde o sustento era plantado e colhido debaixo de sol e chuva , com respeito religioso à natureza e a regras de conduta exigentes, muitas vezes castradoras.
Nessa atmosfera de trabalho duro, sob o olhar curioso dos moradores do lugarejo, e da severidade dos pais , o leitor conhecerá a tocante história da bela Doralice e seu amor secreto por Trajano, jovem valoroso e sério.
A narrativa instigante de Aliandro, Oliveira é enriquecida pela mestria no uso da linguagem regional e da descrição minuciosa do universo camponês , materializando os personagens, que "saltam " das páginas e criam com o leitor o vínculo de afeto, responsável pela humanização da obra.
A união desses elementos cultiva uma aura de sensibilidade , que certamente prenderá a atenção, da primeira à última página !
Ao leitor, desejo boa viagem!
Rosana Nogueira
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